05/03/11

Não se paga nada

Já estava na hora. A plataforma bem composta. Temperatura razoável. Humidade em decrescendo da noite. Vento de Nordeste. Metro e meio na Costa e em Peniche. Oito horas e dezanove minutos. Menos uma nos Açores. E o sol descansava lá em cima, no tecto da estação do Pragal. Também merece, que isto de iluminar múltiplos lugares do mundo constantemente também cansa. O fumo ia divagando, a música em cada ouvido, jornais gratuitos em abundância. A pressa de partir e a pressa de chegar, entre posicionamentos perigosos e empurrões cansativos. Quem adivinha onde vai parar a última porta? Eu acerto sempre, só aquela senhora com cinquenta sobretudos e setenta cachecóis é que me dá luta. Uma vez, outra vez outro. 45-42, ganha ela. Mas o campeonato ainda não terminou.

E aí vem ele, o comboio suburbano Fertagus oriundo de Coina e com destino a Roma-Areeiro vai entrar na linha número quatro. Não é bem assim, se fosse tinha de colocar aspas. E teria de fazer aquela voz formal que tanto me irrita. É agora é agora...já está. Que saborosos cinco segundos. Em que o comboio passa a alta velocidade, eu fecho os olhos, espero que o vento me lave a cara e ganho um sorriso por mais uns minutos. E vejam bem, é grátis, não se paga nada. Pelo sorriso. Pela brisa? Aqueles vinte e cinco cêntimos a mais que sobressaem dos vinte e cinco euros não são do IVA.

Os cabelos voam, os cigarros apagam-se e a portas abrem-se. Pode seguir viagem que o sol já está à minha espera na ponta para desejar um bom dia.

Cinco segundos, vinte e cinco cêntimos, mas pagos com gosto. Até logo.

PS: Nem se atrevam a dizer que a brisa do metro é melhor.

Miguel Branco

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