26/03/11

Eles

Ela dizia que sim. Ele dizia que não. Ele pensava que sim. Ela pensava que não. E eu a ver. Nada se ouvia. Sem frequência radiofónica, sem altifalantes secretos, sem um pedaço de futuro para hoje se projectar. O amor, que nenhum dos dois ousaria admitir, em recuos estratégicos, em desvios de olhar, em abraços eloquentes.

Amarram-se a uma árvore com cordas de desejos e algemas de beijos, a inquisição à porta e a emigração à vista. Alguém se ergueu, com medo de se tornar raiz de árvore tão bela, de sustentar os troncos, as folhas e os frutos e tudo (na hora do tornado), de beber da água mais suja e mais saborosa e mais...

Façam-se juras de fugacidade, cuspidas por desilusões de eternidade, e um olhar recatado, distraído, húmido, mais perto de mim, de onde os contemplo. É feio, eu sei. Espreitar a vida de outrém que desespera por um sorriso, nem que seja amargo, nem que quase não se note, nem que ela o desminta. Perdido no dia, na noite, no amanhecer da sua revolta interina, no anoitecer da sua desejada placidez.

Retiro-me, aos poucos, para não ver como termina. O meu olhar está exausto. De tanta emoção, de tanta desordem amorosa, de tantos laços sumidos em expirações trémulas. Que história ofegante. Não resisti. Voltei a atrás e olhei. Não vi mais que os seus corpos desenhados na relva. Eu nado. Tu nadas. Ele nada. Nós nadamos. Vós nadais. Eles nada.

Miguel Branco

6 comentários: