Conto as pedras de calçada que faltam para chegar. Umas já são passeio. Outras nunca foram. O toque, o aviso e a fechadura, que cansaço. O encosto da cara quase parece um afecto, mas não me engano. Seguem-se as perguntas, os pedidos e os decibéis a levantarem-se do chão. As mesmas respirações pautadas pelo mesmo conflito. E mais nada.
A desilusão, essa não me larga. Enfio as luvas para a agarrar, o cheiro a plástico a enjoar, respiro fundo e deito a mão. Só água. Nada sólido, nada passível de queimar e tornar pó. Nem um simples botão de reiniciar para acreditar de novo. Para perceber que foi falha do sistema, que o coração ainda me têm em fotos de miúdo. Mas hoje ponho a mala ao ombro, viro costas e deixo de ouvir. Hoje percebo que não há caminho de regresso e que o olhar perdeu a cor. Ali, já não sou o que fui, sou um comboio estonteado sem paragens nem atrasos.
Faço de sentinela a noite inteira e nem a vejo pousar. Vou deixá-la estar. Não a consigo agarrar.
Miguel Branco
Já tinha saudades de te encontrar por aqui. São sempre bons de ler esses teus "rabiscos".
ResponderEliminarPor te ler, por te perceber, também eu sinto necessidade de te "agarrar" e não te deixar cair. Sabes disso. Sabes que isso nunca vai mudar. Venha o tempo, venha a distância, venha a ausência... eu não vou a lado nenhum e serei sempre uma presença que te acompanha, mesmo que às vezes não me sintas lá.
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