31/08/11

Regresso

A curva à direita, acentuada, à saída da auto-estrada. E o deambular do vento entre os campos de milho. Os de sempre, uns mais velhos, mais secos. Outros tão verdes, tão vivos, extensos até sempre. Um ténue aceno, como um aperto de mão. Seja bem aparecido. E o cheiro a ti, à terra, o cheiro das vacas que se sentia a milhas de distância. Como sabe bem voltar ao teu local. Aquele em que me esfolei e ri sem parar. A igreja, bonita, azul, como sempre. As vizinhas, e adivinhem, estou enorme, estou um homem. O chão da praça com desenhos, só vale pisar as partes pretas. E a capela que o nevoeiro tentou esconder naquela noite horrível. Nunca tive tanto frio. A torreira, moderna, com gente nova, caracóis biológicos e um sol diferente, mais alegre. A regueifa de manhã com amoras roubadas e iogurte natural. As senhoras de bicicleta a irem para a missa, que o domingo é sagrado. A casa e o poço. Ainda funciona, ainda faz aquele ruído que mais parece uma porta a fechar. E tu. Em todo o lado, da sala à cozinha. O teu andar encolhido em forma de dor, com um leque na mão. Que saudades do pão quente e dos pêssegos carecas. Mudei-te a água, as flores e um até já. Tremi. Tu ouviste, eu sei que tu ouviste. Descansa, eu volto. Agora posso voltar.




Miguel Branco

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