26/12/10

Avalanche

Que ruído estranho. Logo aqui, onde neva o ano todo e o som permanente não é mais que o voo de aclamação das aves de rapina. Ainda ouvimos, ainda cheiramos, ainda sentimos, ainda sobrevivemos. Construímos o boneco de neve e mandamo-lo abaixo. A seguir colocamos uma cenoura a fazer de nariz. Quando refazemos o boneco usamos a mesma neve, já nem parece fria nas mãos enrugadas. Não usamos luvas nem pranchas e a tenda chega perfeitamente para resistir ao frio. Mas hoje este fragor que oiço lá ao longe ainda não parou. Vem aí mais uma avalanche e ninguém é capaz de avisar. Onde é que tão as aves agora? Agora é correr. Parar. Respirar. Voltar a correr. Aos poucos sem me deixar alcançar por este demónio dos glaciares e montanhas. Por fim sento-me, olho para trás e ela ainda lá está. E eu ainda aqui estou.

Miguel Branco

Sem comentários:

Enviar um comentário