30/07/10

Descansa

Que raiva. Não costumo ser assim, mas chega a uma altura que isto cansa.

Dá-me a sensação que me assemelho a um puto de 5 anos vingativo, que se saliva todo quando lhe roubam o carro telecomandado. Puro azar. O passeio está esburacado…e agora? Chovem pedras da calçada para esses estupores do destino, ou do karma, ou daquela entidade que leva as pessoas de ao pé de nós.

Que injustiça. Não costumo ser assim, odeio clichés, mas quase parece verdade.

São sempre os mesmos, os melhores. Os piores vão ficando e rindo satiricamente, mesmo quando o sol os acorda através dos quadradinhos de metal e o recreio é as 15 horas.

Portugal acordou encolhido. Uma pontada na coluna fez Sagres balançar para trás. Um soco no abdómen fez oscilar Lisboa. E assim foi em todo o país. Felizmente ninguém se esquece. Dói. Retraímo-nos em conjunto, mas recordamos, exaltamos, choramos.

Está no núcleo duro deste pequeno país. Esperamos que ainda estejam mais por nascer. No teatro, na rádio, na televisão, no desporto, na literatura. Homens e mulheres de excelência que nos fazem andar com o peito inchado pelo estrangeiro.

Nunca parámos de rir. Não nos cansámos de ouvir a sabedoria e humildade com que nos foste brindando, principalmente nestes últimos meses.

Não é tempo de gritar pela injustiça da vida, não é não. É tempo de deixar cair uma lágrima de homenagem e sorrir ao som das últimas e infinitas palavras.

Que a beleza do teu nome nos conceda um dia.

E hoje, por um dia sejamos todos fantasticamente Feios, no coração, na face, nos olhos, no nosso íntimo e na nossa sombra.

Se cada um fosse tão Feio como tu António...

Descansa em paz António Feio.

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