11/02/10

Post 2

Aqui vai o primeiro desabafo deste blogue, que venham muitos mais. É normal que não percebam alguma coisa, nem eu mesmo percebo, nem sei para quem tou a escrever, mas quando se abre um blogue temos de criar uma entidade superior, no plural, que são vocês e vocês, sejam lá quem forem, sei que me compreendem.

Dou comigo

Dou comigo à procura de folhas de papel que não são para encontrar, de canetas sem tinta perdidas no fundo da mala, de micas dobradas sem vontade de guardar conhecimentos, de sebentas sem fim presas por elásticos fatigados, de lapiseiras com minas explosivas balançadas por disciplinas constrangedoras, de separadores multicolores esmagados por axiomas e teorias hipodérmicas, de jornais não pagos de há 3 dias que se lêem ao sabor do tempo, de post-its que aguardam ideias não-amarelas. Dou comigo à procura...e não encontro, procuro sim um motivo para não partir paredes, para não comer a despensa como se tivesse tanta fome que comia o planeta inteiro e o sistema solar como sobremesa. Dou comigo a ser eu, a ter tempo para pôr em prática a minha personalidade e a não pagar mais por isso, a agir em vez de fingir, a ser capaz de evitar olhar para o relógio de 10 em 10 minutos, a ver o tempo passar com cara de mau e a esticar-lhe o dedo. Dou comigo a ter tempo e a não ter esclarecimento suficiente para ter vontade de ser, de estar, no presente do indicativo. Dou comigo a desviar o olhar para não ver a minha consciência passar, com medo de ouvir aquilo que já devia ter ouvido: eu não dou comigo.


Miguel Branco

http://www.youtube.com/watch?v=_XROFEwhBpc - Aqui deixo uma música genial, feito por um génio, para acompanhar a leitura, faz sempre bem. Beijinhos e abraços.

1 comentário: