12/02/12

Novo dia

Fazes declarações sombrias daquilo que sou. Vês sem olhar, preferes não sentir o vento a dar-te alguma luz à retina. Cospes palavras e cospes-me para um beco sujo, tornas-me vizinho dos ratos. As escadas de incêndio cheias de ferrugem, o odor ao desgaste, à ruína inscrita em pacotes de cartão húmido com pedaços bolorentos de um chilli barato e picante. Um sapato solto, sem sola, que não esconde as feridas dos pés e não protege do frio. Viraste costas, não ouves o meu desespero em conversa com a velha do 7º andar, que finge não me ver e me chama desgraçado pelo seu olhar. Como o prato do dia do italiano da esquina passado uma semana. Estás cega e surda, só ouves os teus próprios gritos inesgotáveis, em mentiras conscientes. Declamo poesia de rua, da minha autoria. Ninguém escuta, convidam-me a subir ao terraço e sinto-me a cair. A morte não é solução, apesar de ser uma tentação. Que noite terrível, tenebrosa, tudo parecia tão real.


Bom dia amor, dormiste bem?




Miguel Branco

2 comentários:

  1. ainda bem que foi só um pesadelo. always always tudo o q digo sempre.

    kiss

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  2. Fácil. Sincero. Right on the spot. Como costumo dizer: bem esgalhada.

    Gostei, meu irmão.

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