Faz cinco anos que te ouvi subir a encosta. E até hoje nada. Eras tu, e o teu andar meio trapalhão com as sandálias na mão. Os óculos escuros com o rebordo castanho e chapéu à mexicana. Eras tu, tenho a certeza. De camisa transparente e de calções pretos, como eu tanto gosto em dias frescos de verão.
O declive é acentuado, o da encosta claro, e parecias tão perto. Não espreitei, dizem que dá azar, e só podias ser tu, para quê confirmar? Estendi a manta e pousei a cabeça para ouvir os teus passos a galgar a areia. O teu fôlego bem te denunciava e pareceu-me ouvir o teu assobio, em forma de onda do mar.
Esperei tranquilamente. Sempre gostaste de demorar. E eu sempre gostei que demorasses, que fosses vivendo ao teu ritmo e que marcasses o meu.
Tanto esperei que adormeci. Mas eras tu. Só não era eu.
Miguel Branco
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