Desculpa
Um reverso meio torto.
Agora. Parece que desaprendi, abandonei-te.
Breves vazias e
desgastantes, como o regresso de uma epopeia interminável, um acordar de noite
em solidão dispersa.
Informação dispensável,
a vírgula no sítio certo, a interrogação escondida, a exclamação sem vontade, o
ponto final. Pontuação da minha vida, tão cruel, demasiadamente real para
aquilo que um dia quis deixar. De mim. Desculpa-me meu ouvinte… São dias
eternos de escuta e de um receio quebradiço, quase não consigo ter tempo para
me ver, narciso que sou. Logo neste momento em que estou mais perto de me
tornar homem, de barba por fazer, à descrição do meu saber, ao saber da urgente
aprendizagem. Nasci cego, ao contrário de ti. Nasceste mudo, mas dizes-me
tanto. Tu que me esperas na minha mesa-de-cabeceira, tu que sabes de onde
venho, tu que reconheces a água no meu olhar ao ouvires os meus passos quando
piso o granito frio das escadas enquanto largo um suspiro de exaustão.
Ignoro-te sem intensão. Também assistes a tudo, sei que compreendes o silêncio
moribundo, o nó na garganta, o desejo intensivo de esquecer…e explodir.
Não penses que me
esqueço de ti. Conheces como poucos a necessidade que tenho de estar comigo, de
desabafar comigo…e contigo. Não me deixes só, mas deixa-me estar…assim.
Desculpa.
Miguel Branco