16/09/10

Aproximar

Que sensação esquisita. Não sei bem o que sinto, e eu acho que sei sempre o que sinto, mesmo que não o saiba. Procura algo distinto num destes cantos da sala, mas se não vejo abajures tortos e infelizes, vejo peças artesanais que outrora me davam alento. E ver não me chega, nunca chegou. Preciso de estabelecer uma conexão, por mais idiota e ridícula que seja. E não, não é ver para além do que os olhos vêem, porque de facto são eles que o fazem, seja de uma forma mais superficial ou mais profunda. Viajando nas partículas com nomes químicos e microscópicos cujas suas fórmulas fazem doer a cabeça, vou-me aproximando. Muito lentamente. É assim que vou colocando etiquetas, de olhos vendados, são nomes próprios, próprios de minha autoria e não de um grupo de substantivos próprios. Com letra grande, como dizem as crianças. Todos vemos com dois olhos, todos sabemos ser observadores, todos temos uma maneira diferente de nos aproximar. Sim, aproximar. Porém, sem conseguir entender.

Eu não disse que achava que sabia sempre aquilo que sentia?

Miguel Branco

06/09/10

Já posso ir dormir?

São 3.30 da manhã, a minha mãe vai-me bater.

Mas hoje o meu blogue não me deixou ir dormir. Chegou a ameaçar-me de que nunca mais colocaria acentos e as pessoas iriam rir-se de mim. E aquelas que se preocupam corrigiriam primeiro, só depois disfarçariam, elogiando o “magnífico” texto. “A sério Branco está fantástico, só reparei no erro porque gosto de ler muitas vezes”. Estava tão irritado que era capaz de ir aos meus registos de MSN buscar uma conversa de 2008, para me atirar com uma frase destas à cara. Desculpa mãe por estar acordado. Desculpa blogue por estar de férias.

Eu bem sei, eu bem sei que a escrita não tira férias e que há internet em cafés e em tascas com cheiro a linguiça.

Mas eu tiro férias. E tu já me conheces, eu não tiro férias da faculdade ou do andebol, sem antes tirar férias de mim. Tirar férias de mim, é tirar-me a escrita. Já sei o que vais dizer…mas as coisas não são bem assim. Eu já não escrevo tanto, mas durante as aulas sempre vou escrevendo. Durante esse tempo não estou a 10 km/h (ainda que as vezes possa parecer), vivo num fervilhar de acontecimentos e batimentos. E quando reparo não consigo ser eu. Não tenho tempo? Mentira. Não tenho paciência? Talvez, mas não é desculpa. Não consigo, ponto final.

É algo que me intriga há algum tempo. Isso e não saber ao certo quando sou eu, se nas férias, se durante o ano lectivo. Mas estou convencido que sou eu nas férias. Quando tenho tempo para ter calma, quando desapareço para a maior parte, quando não tenho que ir ao portátil ver o e-mail, quando não tenho que ler por obrigação. Não sabe tão bem? E vais dizer que a ti não te sabe bem, não ouvires o meu jornal da tvi todas as semanas?

Mas está descansado, o stress vai começar a surgir, daqui a um mês já estou a engolir em seco, já consumo tudo o que me acontece, em tão pouco tempo, nas viagens de comboio, metro e autocarro. Aí podes sorrir, sabes que me tens de volta. E podes aconchegar-me com a tua frase preferida “Desculpa Miguel, mas até gosto quando te sentes em baixo.”

Miguel Branco