28/06/10

Mago

Mago


Foi há dez dias.
E só hoje me consegui sentar, ainda que meio em receio sinto-me capaz de te contar.
Já alguém te contou uma história melhor que as tuas?
Dá-me licença Saramago. Que te trate na primeira pessoa, que te conte uma história.
Por onde quer que deambules ouve-me por 2 segundos.
Esta é a história do jovem que não conseguiu escrever.
A história do rapaz que tinha um ídolo.
A história do miúdo que quando soube que ele partiu, paralisou.
E depressa se fez ao caminho para ir beber cervejas e rir com os amigos.
Como uma namorada louca que não aceita o fim da relação.
O jovem fingiu que não era verdade.
Dez dias volvidos o jovem sentou-se e escreveu:


"Há dez dias partiste José, e eu nem me dignei a prestar-te homenagem. Hoje te dedico estas palavras. Em palavras porque é a minha melhor forma de me exprimir. De estar mais próximo de ti.
Há dez dias atrás os livros ficaram abertos.
Ninguém ousou fechar.
Luto literário. Luto completo.
Uma grande percentagem do cérebro de Portugal morreu.
José, não nos deste só conselhos nas tuas diferentes contracapas.
A nós, portugueses com sede de sabedoria… tiraste-nos a cegueira e ofereceste-nos uma jangada para ninguém se afundar.
Promoveste ensaios para ninguém falhar na actuação.
Ninguém perdeu tempo. Todos o ganharam.
Agora todos te agradecem, todos correm às livrarias para te manter vivo.
Pesa-lhes a consciência.
A mim só me pesa o pensamento.
Eu não te apago, não morrerás nunca Mago Saramago."